Conheça a história do RPG no Brasil, os livros, as fases, e como está a situação do RPG Brasil.
RPG Brasil: conheça a história do RPG em Terras Brasileiras
A história do RPG no Brasil veio tardiamente, pois enquanto o RPG era lançado na década de 1970, e conquistava o mundo na década de 1980, o Brasil somente foi conhecer esse estilo de jogo no final da década de 1980, e seus primeiros títulos seriam lançados em português brasileiro na década de 1990.
Abordaremos nesse artigo as fases do RPG Brasileiro, seus altos e baixos, seus sucessos e fracassos, e como está o mercado editorial hoje. Também abordaremos como será o futuro do RPG no Brasil.
RPG Brasil – A Geração Xerox
O RPG desembarcou em Terras Brasileiras no meio da década de 1980. Estudantes de intercâmbio que viajavam para os EUA ou Europa conheceram o RPG por essas terras e começaram a trazer em suas bagagens os primeiros livros.
No Brasil, esses livros, absurdamente caros para a população geral, e de difícil acesso para outra maioria, começaram a ser replicados de forma amigável. Quem tinha um original ou fotocópia, emprestava para outro também fotocopiar.
Em uma época que as máquinas de escaneamento não era populares (ou era tão absurdamente caras que poucos possuíam), eram nas empresas gráficas que os primeiros RPGistas copiavam seus livros tão raros. A essa geração de jogadores chamamos de “Geração Xerox”.
Por volta de 1986, a TV Globo estreava no Brasil um desenho animado que, até então somente quem conhecia sobre RPG relacionava, o famoso Caverna do Dragão, ou no nome original, o Dungeons & Dragons. Sim, o desenho era uma adaptação animada do jogo, mas grande parte do público não relacionava.
Com a abertura para obras de fantasia interpretativa e jogos do segmento, livrarias já encomendavam os livros de RPG importados. Como dito anteriormente, por alto preços (dada a situação econômica no Brasil e a própria dificuldade e preço de importação dos livros).
No final da década de 1980, a editora Marques Saraiva começa a publicar os livros-jogos Aventuras Fantásticas, e seria o pontapé inicial para publicação de jogos de RPG no Brasil.
RPG Brasil – O Começo do RPG brasileiro
A década de 1990 foi o verdadeiro começo do RPG no Brasil. Por aqui começaram a ser lançados os primeiros títulos traduzidos, como também começaram a ser lançados os primeiros títulos brasileiros.
Também começou a aparecer o interesse por esse hobby pelas editoras nacionais. Editoras como Devir, Abril, Ediouro e outras começaram a comprar licenças de RPGs gringos para traduzir e vender no Brasil.
Mesmo com o interesse dessas empresas, ainda era pouco o conhecimento do RPG por parte da população geral. RPG ainda era um hobby de nicho, relegado a alguns poucos jogadores por região ou cidade, mas isso iria mudar com o passar dos anos, com os primeiros eventos de RPG.
O primeiro RPG totalmente brasileiro, lançado em 1991 no país. foi o Tagmar, da editora GSA. Inspirado na obra de Tolkien, era comumente acusado por jogadores que não jogavam ele de copiar o Dungeons and Dragons. Claro, o sistema era totalmente diferente. Parte dessas infâmias eram propagadas por jogadores apegados ao material importado, e que não se interessava pela produção nacional. A GSA encerrou as atividades no final da década de 1990, mas o Tagmar continua vivo até hoje.
No mesmo ano que Tagmar foi lançado, o primeiro livro de RPG importado traduzido para o português brasileiro foi lançado. GURPS foi lançado pela Devir, e dominou por anos as mesas de RPG. Mesmo com a descontinuação da linha nos anos 2000, ainda existe muito jogador desse RPG no Brasil, com uma comunidade bem atuante e unida.
No ano seguinte, a GSA lança Desafio dos Bandeirantes, um RPG de fantasia com temática brasileira. Lembrado até hoje por veteranos, teve até o boato que seria lançado em uma versão d20 na década de 2000, mas não foi feito.
Pegando carona nos jogos de RPG, a Grow começa a lançar jogos de tabuleiro de RPG. Os lançamentos de 1992 foram as caixas de Classic Dungeon e Dragon Quest, e À Procura pelo Dungeonmaster (pegando carona no desenho Caverna do Dragão) e no final do ano seguinte, a caixa preta do Dungeons and Dragons. Com essas caixa, o RPG finalmente começava a ganhar as casas no Brasil, como um brinquedo interpretativo.
Em 1993, acontece no Parque do Ibirapuera (São Paulo/SP) o primeiro Encontro Internacional de RPG, organizado pela Devir. Esse encontro se tornaria com o tempo no 2º maior evento de RPG no mundo, perdendo apenas para a GEN CON (EUA).
Ainda em 1994, a Devir lançaria um RPG que viraria febre: Vampiro – A Máscara. Nos anos seguintes, outros livros de Storytelling seriam lançados por essa mesma editora.
Em 1994, a Estrela lança no Brasil o Hero Quest, outro jogo de aventura que traria mais jogadores para o RPG. Nesse ano, também marca um novo capítulo para o RPG de forma nacional.
RPG Brasil – A Era Dragão Brasil
O mercado editorial de RPG estava crescendo, com mais jogadores interessados em RPG e artigos relacionados, editoras lançados diversos livros importados, e também editoras nacionais investindo em produção também nacional.
Algumas empresas apostaram na linha editorial de revistas para o público RPGista, então na mesma primeira parte da década de 1990, surgiram várias revistas especializadas em RPG, como a Dragão Dourado (pela GSA em 1994), Saga (pela Editora Escala em 1997) e a Dragon (que citaremos adiante).
Todas as citadas anteriormente tiveram poucas edições e sucesso, encerrando a linha com poucas edições. Mas em 1994, uma outra revista de RPG era lançada, e por anos seria referência em artigos editoriais para o RPG. Essa revista era a Dragão Brasil.
Lançada como Dragon nas primeira edições, e posteriormente tendo que mudar o nome por precaução para não ter atritos jurídicos com a Editora Abril Jovem/TSR, a Dragão Brasil ficaria por muitos anos a frente do hobby, e se consolidaria como publicação de divulgação e mídia influenciadora.
Em suas páginas, foram divulgados vários lançamentos de RPG, e até seu RPG próprio, o Defensores de Tóquio, como posteriormente seu cenário de RPG, o Tormenta. Defensores foi planejado para ser um suplemento para Toon, que seria lançado em 1995 pela Devir, mas acabou sendo um RPG próprio.
Em 1995, a Editora Abril (com o selo Abril Jovem) lança a Dragon Magazine, revista da TSR especializada em D&D, abrindo um pontapé para suas futuras publicações. Ela lança o introdutório para o AD&D, o First Quest, e logo depois o Advanced Dungeons and Dragons. Também ela lança o jogo de cartas Spellfire e livros jogos da série Você É O Herói.
No mesmo ano, a Trama (editora da Dragão Brasil) lança o Arkanun, e posteriormente o Trevas, o que seria o pontapé para o sistema Daemon, e futuramente, para a editora Daemon. Seu escritor, Marcelo Del Debbio era colaborador da Dragão Brasil, que por sua vez divulgou bastante o sistema em suas páginas.
Ainda em 1995, outra editora se interessa por RPG, a Ediouro, e lança no Brasil o RPG Shadowrun. Também lança o RPG oficial do Senhor dos Anéis, o Middle-Earth Role Playing Game (Terramédia RPG), conhecido como MERP. A editora também lança revistas voltadas para o MERP e livros jogos da série Aventuras na Terra Média. Contudo, a aventura editorial dela é curta, encerrando a linha no final do ano.
Shadowrun é assumido pela Devir em 1996, que publica no mesmo ano o Cyberpunk 2020.
Em 1997, a Akritó Editora lança um RPG nacional chamado Era do Caos. Nesse mesmo ano, a Editora Scipione começa a lançar livros de RPG com tema educação: Jogo de RPG – Português em outras Palavras.
Nesse mesmo ano, boatos sobre ligações entre o RPG e crimes começaram a se espalhar na mídia brasileira. Finalmente, para a imprensa, eles descobriam o RPG, mas como fonte de desinformação. Notícias dessa época reverberaram por anos, e muitos jogadores foram afetados pela boataria produzida por jornais sem escrúpulos ou sem interesse em pesquisar mais a fundo sobre os jogos de RPG. Foi uma Era Negra do RPG no qual toda a comunidade estava ativamente alerta para combater boatos.
Em 1998, a Dragão Brasil já era consolidada como a maior e única revista de RPG do Brasil, e investia ativamente na produção de material nacional. Com o apoio de sua editora, lança vários RPGs, como a 3ª edição do Defensores de Tóquio, agora conhecido como 3D&T, e o Street Fighter The Storytelling Game. Enquanto isso, a Devir lançava o Castelo Falkenstein.
Fechando a década de 1990, em 1999 a Dragão Brasil ainda lançaria seu maior sucesso, o cenário Tormenta, uma junção de vários personagens e artigos de suas páginas, que evoluiria e se transformaria no cenário nacional mais vendido até hoje.
Devir lança as versões Mini-GURPS, aproveitando o auge do sistema depois de diversos suplementos publicados na década, como lança cenários inspirados na história do Brasil, como o Mini GURPS Descobrimento do Brasil, Entradas e Bandeiras, e Quilombo dos Palmares.
E, ao mesmo tempo, a Devir assume de vez a linha editorial de Dungeons and Dragons. Uma decisão acertada, pois o novo século e década tinha muito a oferecer para esse RPG e quem o acompanhasse.
RPG Brasil – A Era D20
Com a aquisição da TSR pela Wizards of The Coast, o mercado editorial de RPG mundial sofreu um tremor de proporções nunca vistos, principalmente com a liberação nunca antes vista de uma licença de publicação de livros, chamada Open Game License (OGL) que permitiu que editoras publicassem livros para o Dungeons and Dragons.
O mundo respirava o sistema D20System, e incontáveis editoras começaram a lançar centenas de livros e cenários para o sistema com o logo Dungeons and Dragons ou D20System.
Claro que isso aconteceu também no Brasil.
A Devir lança o D&D 3ª edição em português em 2001, e aproveitando a carona, outras empresas no Brasil começam a produzir material autoral ou licenças estrangeiras aqui.
Enquanto isso, a Comic Store lança em 2004 o OPERA RPG, um RPG brasileiro, com um sistema genérico rápido e modular. No mesmo ano, a Devir trazia para o Brasil a edição 3.5 do D&D.
A Talismã, outrora editora Trama, lança o RPG Quest, um sistema de RPG super simples e inspirado em jogos de tabuleiro. Marcelo Cassaro (um dos editores do Tormenta e da Dragão Brasil) lança o AÇÃO!!!, pela licença OGL, um RPG moderno.
A Dragão Brasil começa perder público entre as publicações editoriais de RPG brasileiro, e seus editores saem da revista para tentar lançar outras revistas no mercado, mas sem o sucesso da DB. Três revistas são lançadas: RPGMaster, da Mythos Editora, tem artigos exclusivos para 3D&T; e DragonSlayer, da Manticora Editora, tem artigos para o D20 System; e D20 Saga, também da Manticora, era uma revista mais robusta, mas também focava o público do D20System/OGL.
Tagmar, que estava esquecido desde a década de 1990 por empresas, ressurge com uma licença aberta, como o d20System, e ainda em 2005 surge um site com um fórum para a produção de material. Esse site existe até hoje.
Ainda nesse ano, a Manticora lança o Primeira Aventura, que chega a ser comparado ao First Quest lançado na década de 1990. A Dragão Brasil é assumida pela equipe do site REDERPG. A Dragão Brasil começaria a saltar de mão e mão como batata-quente.
Em 2006, a Editora JCB entra no mercado de RPG, e publica o 4D&T, uma adaptação do sistema 3D&T para D20System mas usando um d6. A REDERPG deixa de gerir a Dragão Brasil, e em 2007 ela passa para as mãos de Sílvio Compagnoni Martins (ex-Devir).
Em 2008, a Dragão Brasil é cancelada na sua 123ª edição. Nesse ano, o auge das publicações sobre RPG era da Blogosfera RPGística, que tinha vários blogs com publicações diárias. Muitos desses blogs se tornariam publicadores e criadores de conteúdo, e na próxima década, alguns alcançaram patamares maiores e viraram editoras. Essa história será contada adiante.
Nesse mesmo ano, seria lançado pela Devir a 4ª edição do Dungeons and Dragons, com uma nova licença (a GSL, Game System License), o que sepultaria a Era d20 oficialmente no Brasil, seguindo também a mesma tendência no mundo todo.
RPG Brasil – A Era de Ouro do RPG brasileiro
Com o fim da era D20 e a estagnação de algumas editoras e publicações de RPG no final da década de 2000, muitos sites alardearam que o RPG estaria envelhecendo ou morrendo.
A Devir começava a focar mais de D&D, mesmo lançando alguns poucos livros, e seus concorrentes como a Jambô e Talismã focando em seus produtos sem a procura de novos materiais, e até a Daemon (Arkanun/Trevas) liberando seu sistema em uma licença aberta, as publicações nacionais tiveram uma parada.
Tivemos um hiato de alguns anos, como uma ressaca, de publicações de RPG. Muitas editoras que pegaram carona na “onda D20” acabaram fechando pois uma nova edição, mais engessada, do D&D tinha regras mais complexas para a criação de material.
Lá fora, jogadores veteranos se rebelavam contra a nova edição, e seguiam o “caminho dos desgostosos” voltando as raízes com o OSR (Old School Renaissance) e a explosão de retro-clones do D&D, ou a continuação do D&D 3ª edição, com o lançamento do Pathfinder (que posteriormente seria lançado no Brasil pela Jambô).
Aqui no Brasil, a partir de 2010 o mercado editorial de RPG mudaria de mãos, e novas editoras conquistariam o mercado, e as velhas editoras que protagonizaram por tanto tempo o hobby começariam a deixar a fatia da pizza do mercado nas mãos famintas de novas empresas.
Da Blogosfera, começaram a sair novos escritores, com seus livros independentes, em sua maioria em publicação digital, ou alguns poucos em produção de impressão por demanda.
Em 2010, é lançado o Old Dragon da Red Box Editora, aproveitando a carência de publicações de RPG old school no Brasil, e acolhendo veteranos e novatos que não gostaram da nova edição do D&D.
No mesmo ano, era realizado o World RPG Fest, evento que se sagraria com um dos maiores eventos de RPG do Brasil, preenchendo a lacuna deixada pelo Evento Internacional de RPG.
Em 2011, a DragonSlayer vai para a Jambô, que também assume todos os títulos de Tormenta RPG e de 3D&T. Nesse mesmo ano, conhecemos e financiamos o primeiro RPG brasileiro em um financiamento coletivo, o Violentina do Eduardo Caetano, que acaba inaugurando uma onda de RPG indie no Brasil.
A onda de RPG indie continua até hoje, e fez com que o RPG brasileiro tivesse a melhor era do jogo até hoje. Muitos autores viram que era possível publicar seus livros sem o suporte de grandes editoras, e alguns por causa dos seus livros financiados via crowdfunding, conseguiram também forma editoras próprias.
Em 2013, a DragonSlayer é cancelada em sua 40ª edição, a segunda mais longeva revista de RPG no Brasil. Sua responsável, a Jambô, informa que os materiais que seriam publicados na revista passariam a ser publicados em seu site. A Devir, publica nesse mesmo ano o Pathfinder.
Em 2014, temos a entrada de uma nova empresa no mercado, a Galápagos, que sempre foi especializada em jogos de tabuleiro, e começa a se arriscar no nicho de RPG. Ela lança o Fronteira do Império, livro de RPG do Star Wars, aproveitando que ela detinha a licença de diversos outros jogos da franquia. A Solar Entretenimento lança o FATE.
Já em 2015, a New Order também entra no mercado, lançando Yggdrasill, e depois Lenda dos 5 Anéis. Temos então uma chuva de lançamentos de RPGs nunca antes publicados no Brasil, como também vários RPGs de autores nacionais.
E em 2016, a Dragão Brasil renasce das cinzas, agora em formato digital.
RPG Brasil – O RPG brasileiro Hoje e o Futuro
Estamos em uma nova era, onde temos financiamentos coletivos quase todos os meses de RPG, grupos diversos em redes sociais bombando, sites como o MaisRPG com bastante conteúdo, e uma comunidade bastante atuante e unida.
Temos uma gama de editoras de RPG produzindo, como lançamentos esperados.
A Galápagos está trazendo a nova edição do Dungeons and Dragons para o Brasil, como também a linha de Vampire – The Masquerade.
Já a New Order está trazendo o Pathfinder e o Starfinder, bem como o Chamado de Cthulhu e Shadowrun.
A Macaco Dumal está trazendo o Mythras RPG, conhecido antigamente como Runequest.
A Jambô financiou há pouco o novo Tormenta RPG.
A Retropunk está investindo com força em Savage Worlds e seus cenários, e fianciou há pouco a nova edição, o Savage Worlds Edição de Aventura (SWADEBR). Também está investindo no Rastro de Cthulhu e no RPG brasileiro Terra Devastada, e no Hora de Aventura RPG.
A RedBox continua firme e forte com seu Old Dragon, Space Dragon, Thordezilhas e Legião.
E que venha mais editoras e mais livros de RPG para o Brasil!
Fim do Texto – RPG Brasil: conheça a história do RPG em Terras Brasileiras
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